Introdução do Daime, a dose de cada um.


“A cada qual segundo as suas obras”.

Chegamos até o copo de Daime. Quem o serve nos olha profundamente e nos ministra uma dose que é a mesma para todos. A quantidade foi definida anteriormente e se considerou o tipo de trabalho, o período de duração dele e o a concentração da bebida sacramental.

Tudo parece certo exceto por um fato: todos não têm a mesma sensibilidade! Por isso não necessitariam beber a mesma dose! Não se pode garantir que uma dose pequena causará uma experiência pouco intensa ou que uma dose maior causará uma experiência intensa, mas os experientes sabem que há uma relação entre dose, sensibilidade e os trabalhos realizados.

Por exemplo, se duas pessoas de pesos diferentes recebessem a mesma dose de gás hélio, o mais leve flutuaria mais alto e o mais pesado flutuaria mais baixo! Para os dois flutuarem na mesma altura, deveriam receber diferentes quantidades de hélio!

O interesse do Daime é que façamos nossos trabalhos com consciência, disciplina, dignidade, se possível descansados, serenos para obtermos o melhor rendimento dos ensinos recebidos!

O Mestre do Daime não deseja nosso sofrimento e sim nosso aprendizado! Esta é a principal característica do autoconhecimento: esclarecer para evitar o sofrer! Então o sofrimento pode ser justo nos trabalhos de catarse, mas porque teremos que sofrer desnecessariamente no aprendizado?

O Daime também é um catalizador mediúnico, e temos visto médiuns já desenvolvidos, sofrendo, se contorcendo, passando por situações difíceis que poderiam ser evitadas se fosse administrada a dose adequada para sua sensibilidade! É verdade que a bebida é auto reguladora, que expele o excesso administrável, mas todos sabemos que uma dose excessiva e desnecessária pode nos causar mais trabalho para ser administrada!

E mais: sabemos que o Daime não tem registros de efeitos colaterais, nem registro de dependência química ou dano cerebral, mas devemos ter cuidado com os riscos psicológicos, especialmente com os que apresentem histórico de problemas mentais. Os portais da autoconsciência devem ser abertos em ambiente seguro, para que eles promovam um encontro esclarecedor e não desestruturante.

Então por que é servida a mesma quantidade para todos? Por diversas razões: Para seguir o ritual já estabelecido, para tornar todos iguais, para controlar o consumo, para evitar desperdícios, para condicionar o discípulo à não questionar muito e para sugerir que quem lhe ministra a dose “sabe” nossa dose adequada.

Isto é possível no estado de expansão de consciência, mas não acontecerá logo na primeira dose.

Se o melhor é tomar uma dose adequada, então somente nós podemos saber qual dose que nos é adequada! E só saberemos se nos preocuparmos em conhecê-la!

Com o passar o tempo, aprendemos a administrar a nossa dose para o estágio de sensibilidade que você tiver na ocasião. Esta responsabilidade é nossa! Não a deixemos nas mãos de ninguém!

Também não devemos excluir a hipótese de experimentarmos uma dose maior que eventualmente nos for oferecida e que “sentirmos” estar correta para a ocasião. Basta a tomarmos sem medo, com consciência e responsabilidade! Neste caso, errar para menos não é melhor do que errar para mais, porque poderemos perder grandes experiências! Se for preciso, procuremos o dirigente dos trabalhos.

E não nos importemos com os corajosos do copo cheio! Eles podem ser apenas pessoas orgulhosas e com menor sensibilidade do que nós e que necessitam de uma dose maior!

A doutrina é de liberdade e a liberdade é obtida quando fazemos nossas escolhas responsáveis! Mas que este não seja um motivo de nos tornarmos um rebelde sem causa!

Afinal, qual seria o inconveniente de tomarmos sempre uma mesma dose?

O hábito de não pensar, não sentir, seguir à risca o indicado, criar uma dependência psíquica e emocional que é contrária aos princípios de liberdade da Doutrina. Algumas pessoas se sentem melhor se forem guiadas pelas outras, conduzidas mentalmente e comandadas. Assim não precisarão se responsabilizar pelas suas escolhas. Se algo der errado, a culpa será de quem a conduziu! Serão cegos aprisionando cegos e chamando isso enganosamente de obediência!

Quem aprisiona se torna prisioneiro de quem aprisionou!

O Santo Daime não é isso! É uma Doutrina de liberdade responsável! A obediência última só nos cabe ao Mestre! Os padrinhos e as madrinhas nos apontam o caminho onde jorra a água. Mas quem se prende a observar o dedo que aponta ao invés do caminho apontado perde a oportunidade de beber a água na fonte!

Devemos ser favoráveis à obediência justa, e contrários à dependência omissa! Que cada um de nós descubra a sua dose adequada em respeito ao Mestre, consciente de que só quem passa por um transe sabe exatamente o que está se passando com ele.

Os Padrinhos, as Madrinhas, os fiscais e irmãos experientes são facilitadores da expansão de consciência.

Então que nenhum de nós atrapalhe o processo de ninguém…

Por: Júlio da Mata