Tabaco sagrado e sua trajetória
Tabaco é uma planta considerada como “Planta de Poder” dentro do xamanismo e outras tradições. Arqueólogos e historiadores acreditam que o Tabaco começou a ser cultivado no continente americano em torno de 6000 a.C., tornando-se uma planta sagrada dos povos pré-colombianos. O primeiro registro pictórico do ato de fumá-la, porém, é um vaso de cerâmica maia do século X, que mostra um charuto feito de folhas amarradas com um barbante. O Tabaco pertence à família das Solanaceae, da qual pertence, por exemplo, a Beladona, no qual existe até quarenta e cinco espécies. O Tabaco possui poucas espécies, algumas delas é a Nicotiana tabacum e Nicotiana rustica, são plantas híbridas, criadas originalmente nas regiões dos Andes, América Central e América do Sul. Seria o sagrado “Peciél” da medicina asteca e o antigo “Petum” do Brasil.
Quando os primeiros colonizadores europeus chegaram à América, a partir do século XV, o hábito já havia se espalhado por toda parte. Os astecas fumavam o tabaco em pedaços de junco oco ou em tubos de cana. Outros nativos do México, da América Central e de parte da América do Sul usavam casca de milho e outros vegetais secos para envolver o fumo.
Os europeus intrigados, quiseram imitar os nativos e na sua volta para Espanha foram encarcerados por bruxaria, pois acreditou-se na época que essas práticas eram envolvidas por magia negra ou pactos com demônios, devido ao ato de assoprar fumaça pela boca ou nariz.
Em 1556, o padre francês, André Thévet introduziu e começou a cultivar o tabaco no sul da França. Alguns anos depois, o embaixador da França em Portugal (Jean Nicot, do qual o nome os botânicos escolheram para denominar cientificamente esta planta), mandou uma amostra da folha em pó para a rainha Catherine de Médicis, no qual o usou em forma de rapé, aliviando suas fortes dores de cabeça. Tornou-se então, a “Erva da Rainha” e tomou seguimento pela história como medicamento para diversos usos. Com o tempo, acabou sendo considerado com uma “droga” e sendo descartado como medicamento.
Ao contrário de outras plantas psicodélicas, pela maioria, o Tabaco tem um caráter adicto psicológico e físico, que é reconhecido pelas testemunhas indígenas, porém sendo um aliado primordial dos xamãs, pois é utilizado com respeito e entendimento. Que não se trata de um adicto se for utilizado da forma correta.
Foi em 1586 que apareceu o uso do cachimbo na Inglaterra, pois até então as pessoas usavam muito na forma de rapé. Se espalhou deste ponto, de forma descontrolada, sendo também monopolizado sua produção pelos estados, rendendo muito dinheiro atualmente.
No mundo nativo americano, o Tabaco era e é consagrado de várias formas. Seja fumado em cachimbo ou charuto, em forma de rapé, mastigado ou ingerido (seja para limpeza ou para outros fins), e também em forma de enemas (uma forma de absorção anal das plantas de poder que evita transtornos estomacais e digestivos, sendo que esta forma de uso já era praticada medicinalmente pelos próprios astecas. O livro de Pierre Chaumeil nos diz: “Presente em toda cura, a fumaça do tabaco é a panaceia da medicina tradicional Yagua”. Inclusive, se utiliza a nicotina para destruir a “filaria” (Filariose ou Elefantíase), uma doença causada pelos parasitas nematoides Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori, que se alojam nos vasos linfáticos causando linfedema. O suco do tabaco é bebido puro ou misturado a outras substâncias enteógenas para produzir ou modificar o transe. Assim, dentro do mundo xamânico, ele tem um lugar importante, sendo um elemento de troca e ligação com o mundo sobrenatural, presente em toda a sessão de cura deste gênero em alguns povos. A fumaça é considerada, de modo geral, e principalmente a do tabaco, a “via” ou caminho pelo qual os espíritos se movem.
A fumaça do cachimbo é concebida por muitas tribos e culturas ancestrais como o “sustento divino” dos deuses e dos seres sobrenaturais, sendo seu alimento espiritual e essencial. Assim atribuído a mesma necessidade aos xamãs, tendo sido criado uma relação de interdependência entre os humanos e os seres espirituais. Nos Waraos, da Venezuela, a única planta enteógena consagrada pelos xamãs é o Tabaco. Eles fumam incessante quantidades para cumprir a promessa primordial feita aos deuses, como meio de se comunicar e viajar para outros mundos. Acredita-se que é construído com a fumaça do Tabaco as casas espirituais que eles irão morar após a morte. No mundo primitivo antigo era totalmente desconhecido o uso do Tabaco somente como prazer. Se trata de um “enervante” ritual e muito sagrado.
Ele é utilizado, às vezes, de forma parecida a Coca, mastigado para aliviar a fome e cansaço. É também usado medicinalmente para clarear as ideias e tirar a dor de cabeça. Nos índios Huichols, no México, ele é associado ao uso do Peiote, como uma forma de purificação prévia. É queimado em forma de incenso como oferenda ou defumação.
Soprado aos quatro pontos cardeais em sessões xamânicas. Lembremos do Ritual do Cachimbo Sagrado, em que o Tabaco é pitado, passando o cachimbo de um a um, estabelecendo uma corrente harmonia, união e igualdade entre os participantes. No mundo afro-brasileiro e na Umbanda ele é muito presente também, sendo a planta dos Pretos-Velhos, manipulada por diversas linhas e entidades. A fumaça é usada justamente nos passes, auxiliando nas limpezas fluídicas de cargas negativas. O ato de fumar, além de atuar como uma limpeza, tem função no próprio trabalho de incorporação da entidade, promovendo uma ligação com o plano astral e facilitando o equilíbrio da energia espiritual no médium. Podemos reparar que o Tabaco traz com ele uma energia mais densa, mais pesada e de uma forte ligação com a terra, de “pés no chão”, aterramento.
É possível tomar um banho de Tabaco se quisermos entrar em contato com esta energia ou para outra finalidade, como limpeza, proteção, conexão, firmeza ou cura.
Tabaco é uma planta que afasta a cobra dos quintais aonde é plantada, da mesma forma que ela protege quando se anda na mata, além de repelir insetos (fumaça). Muito utilizada também para afastar pragas de plantações ou jardins. Ele é altamente atrativo para essas espécies, tomando toda atenção para si, evita que as demais plantas sejam devoradas.
O cigarro como o conhecemos hoje, trazendo as folhas picadas e enroladas em papel, surgiu de uma improvisação europeia. Ele é produzido para viciar. São cerca de 4,7 mil nocivas na fumaça do cigarro. Aditivos industriais são inseridos artificialmente para “turbinar” o cigarro em vários aspectos, como dar sabor e aroma ao fumo ou potencializar os efeitos da nicotina. Quando inalada, essa mistura venenosa, que inclui solventes orgânicos, ácidos, metais pesados e até mesmo materiais radioativos, prejudica demais o organismo, causando alergias, intoxicações nos pulmões, doenças cardíacas, cegueira, impotência e vários tipos de câncer.
Sendo assim, com essa infinidade de benefícios que o Tabaco pode nos proporcionar, o ser humano da “era Moderna” deve aprender e retornar às práticas ancestrais e diferenciar bem o uso dessa planta, com um uso moderado e ritualístico, para algum fim condizente com a espiritualidade e digno da sabedoria dessa Planta Sagrada, totalmente oposto ao uso comum que se dá no mundo dos cigarros industrializados.
Texto do site: Serpente Sagrada